Antônio Prado tem mais de 100 anos de história. Foi a sexta e última das chamadas "antigas colônias da imigração italiana", fundada em maio de 1886. A partir daí, começaram a ser destinadas verbas públicas para abertura de estradas, construção de balsas e barracões, medição de terras, transporte e acolhimento dos colonos.
Mas de onde surgiu o nome da cidade? Ficou estabelecido em 1885 pelo Imperador do Brasil e por outras autoridades, que durante o período de 1886 e 1887, seria criado um núcleo de colonização na margem direita do Rio das Antas. Esse núcleo não tinha nome, por isso o Bacharel Manoel Barata Góis, engenheiro-chefe da Comissão de Medição de Lotes, sugeriu e solicitou que fosse dado à nova colônia o nome de Antônio Prado, em homenagem a Antônio da Silva Prado, fazendeiro paulista que, como Ministro da Agricultura da época, promoveu a vinda dos imigrantes italianos ao Brasil e instalou núcleos coloniais no Rio Grande do Sul.
Muitos anos podem ter se passado, mas as tradições e os costumes vindos da Itália com os imigrantes permanecem enraizados nos pradenses até hoje. Os mais de 12 mil habitantes se envolvem frequentemente na organização e realização de diversos eventos no município, que tem o título de cidade mais italiana do Brasil.
A comunidade pradense possui um patrimônio histórico e artístico, constituído por casas de madeira e alvenaria construídas no final do século XIX e início do século XX pelos imigrantes italianos. Essas casas foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1989. Ao todo, são 48 edificações localizadas nas principais ruas do centro.
Antônio Prado tem 92% da população com descendência italiana e valoriza não apenas o patrimônio edificado, mas também a cultura popular por meio do patrimônio imaterial, como os festivais gastronômicos. Em 2015, a FenaMassa – Festival Nacional da Massa – está em sua quarta edição e já se consolida como um dos principais eventos artísticos, culturais e de gastronomia da serra gaúcha.
O festival reúne comidas e bebidas típicas da imigração italiana, culinária contemporânea, manifestações culturais diversas, artesanato local e venda de produtos coloniais como pães, biscoitos, cucas, doces e embutidos. Também há espaço para expositores, que geralmente são produtores de massa in natura e prontas para consumo, restaurantes, vinícolas e parceiros.
Além de revisitar as tradições, o público pode e deve colocar a mão na massa! Sempre são realizadas oficinas demonstrativas de massas tradicionais para que as pessoas aprendam a tocar o bigolaro, bem como a rechear e fechar um tortei. Destaque também para os cursos e workshops disponíveis antes mesmo do início da festa, que ocorre em outubro. Conforme Cândido Félix Giulian, coordenador do Comitê de Qualificação da FenaMassa, o objetivo é transmitir novos conhecimentos às pessoas. “Queremos dar dicas à comunidade interessada em culinária contemporânea ou aos amantes da gastronomia a fim de promover os produtos da cidade e o nosso festival”, enfatiza Giulian.
A programação do festival engloba ainda um tour gastronômico para conhecer restaurantes e desfrutar de um cardápio especial em cada um deles, além de propiciar a visita às casas da colonização italiana, fotos à moda antiga, passeios turísticos, demonstração de artesanato e apresentações culturais como música, teatro, corais e danças típicas, entre outras atividades paralelas.
Valorização
O projeto FenaMassa busca valorizar a cultura e o patrimônio histórico de Antônio Prado. Durante todo o ano são realizados eventos paralelos, como jantares e almoços que integram a comunidade, entre outros.
O processo de construção do festival tem entre seus eixos prioritários o fomento ao empreendedorismo, ao motivar a criação de novas empresas do setor de massas na cidade; e a qualificação, oferecida por meio de cursos para profissionais de empresas estabelecidas e para a comunidade. O evento é organizado por diversos comitês que são gerenciados pelo Comitê Gestor Geral. Para Roberto Dalle Molle, presidente da FenaMassa, o principal objetivo é fortalecer os negócios. “Temos força na indústria da massa, nas agroindústrias e nas vinícolas, fator que contribui para o desenvolvimento de Antônio Prado”, avalia.
Consolidação
A FenaMassa ocorre desde 2012, sempre no Centro Histórico de Antônio Prado, no mês de outubro. Nas edições passadas, aproximadamente 42 mil pessoas prestigiaram o festival, que recebeu um acréscimo de 30% no número de visitantes ao longo dos anos. Em 2014, mais de quatro toneladas de massa foram consumidas e comercializadas e quase nove mil refeições foram servidas durante os dois fins de semana de festa.
Como diferencial de 2015, a FenaMassa tem uma diretoria exclusiva voltada para o evento e continua contando com o apoio da CIC do município. O foco deste ano é qualificar e fortalecer o festival. “Queremos fazer uma festa cada vez melhor para a comunidade. Queremos surpreender o visitante de Antônio Prado, que além de farta gastronomia irá encontrar uma rica cultura, shows e expositores de setores variados”, destaca Dalle Molle. Para esse ano, de 9 a 12 e de 16 a 18 de outubro, são esperadas mais de 25 mil pessoas.
Patrimônio histórico e cultural
A cidade mais italiana do Brasil possui diversos atrativos. O município é guardião do maior acervo arquitetônico em área urbana referente à imigração italiana no país. Nas ruas, as pessoas falam em dialeto vêneto. A cidade também conta sua história por meio dos reconhecidos corais, das danças folclóricas e das manifestações de fé. A religiosidade é ponto forte, já que o município conta com igrejas, capitéis, gruta natural, festas religiosas e procissões, entre outros. A beleza de Antônio Prado estende-se ainda ao artesanato. São produzidas peças de frivolité, macramê, crivo e bainha aberta, além de palha de milho e de trigo.
O município possui toda a sua história preservada no museu da cidade, que também é tombado pelo Iphan. Mais de 500 objetos estão no acervo e revisitam a rotina de um cotidiano de trabalho e alegrias. O enxoval das italianinhas, com louças e talheres, cálices para o vinho da pipa, o arado, o lampião e os trituradores, tudo permanece preservado para que a comunidade pradense jamais esqueça suas origens.